Campos dos Goytacazes (RJ), sexta, 31 de janeiro de 2014 – Nº 3.223
NEABI promove debate e Roda de Jongo
Reunindo produtores culturais, artistas locais, mestres de jongo e capoeira, além de professores e alunos da UENF e de outras instituições, foi realizado na última quarta-feira, 29/01, no Centro de Ciências do Homem (CCH), o encerramento do 2º semestre de atividades de 2013 do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da UENF.
Desde a sua criação, em maio de 2012, o NEABI vem contribuindo com as discussões acerca das temáticas afro-brasileira e indígena, principalmente através de encontros abertos ao público interessado, que ocorrem nas últimas quartas-feiras de cada mês no CCH. Em 2014 o Núcleo promete dar continuidade aos encontros na intenção de somar forças que ampliem seu campo de atuação.
A abertura do encontro de encerramento ocorreu às 14h, no Mini-Auditório B, com uma grande roda de debate que contou com a presença da jongueira e integrante do NEABI Geneci Maria da Penha, a Noinha; do animador cultural, capoeirista e também integrante do Núcleo Gilberto Coutinho, o Totinho; a professora da UENF e pesquisadora do Núcleo Lilian Sagio; e os professores fundadores do Núcleo Maria Clareth Gonçalves Reis e Leandro Garcia, ambos do Laboratório de Estudos de Educação e Linguagem (LEEL) da UENF.
Principal representante do jongo na cidade de Campos, Noinha iniciou a conversa contando um pouco da origem da dança.
— Os planos dos escravos eram tramados durante a dança, os recados eram transmitidos através dos cânticos. O jongo era muito intenso naquela época e foi uma das formas de contribuição para a abolição da escravatura. Além disso, também abriu espaço para outras manifestações culturais como a capoeira e o samba. — afirmou.
Segundo Noinha, o jongo era dançado ao final de uma boa colheita ou no dia de santos católicos, como por exemplo o 24 de junho. Este era o dia da grande festa do jongo que, de acordo com o calendário católico, coincide com o dia de São João, que também pode ser representado como Xangô na religião Umbanda.
— Minha família não misturava jongo com religião, mas o sincretismo existia para driblar o preconceito. Até hoje existem pessoas que sofrem esse preconceito, sendo até demitidas por causa da religião. Com o avanço das igrejas neopentecostais, essa situação piorou, é uma situação de retrocesso — criticou a jongueira.
Educadores presentes concordaram que o crescimento das religiões neopentecostais interfere diretamente no desenvolvimento de ações de extensão voltadas para o fomento da cultura afro-brasileira.
— Quando pesquisadores como Darcy Ribeiro falavam em animador cultural se referiam a figuras como a de Noinha. Hoje percebemos que esses profissionais que têm a responsabilidade de resgatar e preservar as tradições culturais são exatamente aqueles que matam a nossa cultura — afirmou o mestre de capoeira Totinho.
Para ele, uma das soluções para amenizar esse cenário é a criação de metodologias que estimulem o interesse de jovens e crianças pelas raízes culturais do país. A questão foi amplamente discutida junto ao planejamento das atividades do NEABI para 2014, que inclui o desafio de contribuir para a aplicação da Lei 11.645/08, que torna a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” obrigatória no currículo oficial da rede de ensino.
— Pretendemos dar continuidade às atividades do Núcleo, ampliando as ações nos campos de pesquisa e extensão da Universidade, atuando também em escolas da rede pública através de oficinas culturais que contribuam para a implementação da Lei. — afirma a professora e coordenadora do NEABI Maria Clareth.
O evento foi encerrado no fim da tarde com uma roda de jongo realizada no hall do CCH, onde os participantes do encontro e transeuntes puderam dançar e cantar pontos de jongo entoados por Noinha e pelo sambista convidado Sebastião Barbosa Silva, o Tião do Pandeiro.
Rebeca Picanço
Fonte: http://www.uenf.br/dic/ascom/2014/01/31/informativo-da-uenf-31-01-14-2/
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Equipe NEABI