em 11/08/2013
Yá Makumby de amarelo/ Foto de Maria Nilza da Silva |
Agradeço de coração a todas as manifestações de solidariedade diante a imensa tragédia que nos acometeu nos últimos dias. Não existem palavras para expressar a dor, o sofrimento, a angústia e o sentimento de impotência de que somos tomados todos os que convivíamos com Yá Mukumby, a dona Vilma; sua mãe, dona Allial e a pequena Olívia, de apenas 10 anos. A extrema violência que vitimou três gerações de mulheres negras, frágeis, dentro da própria casa, e sem nenhuma possibilidade de defesa, fragilizou a todos, a toda a sociedade, em especial a cada um de nós negros e negras que sabemos da importância da liderança que exercia Yá Mukumby e ultrapassava as fronteiras de Londrina.
Dona Vilma acolhia a todos, tinha sempre uma palavra de conforto independente de religião, crença, ou sua ausência da mesma. Era profundamente generosa, lutou incansavelmente, todos os dias da sua vida, contra o racismo e a intolerância religiosa. Foi fundamental na luta e no processo de implantação das cotas na Universidade de Londrina. Muitas vezes presidiu o Conselho Municipal da Comunidade Negra.
Mesmo com problemas de saúde que tornava lento os seus passos, mas não a firmeza de sua presença e voz, ela estava sempre disposta a participar das inúmeras reuniões, dos debates, das entrevistas em todos os tipos de instrumentos de comunicação, a que sempre era solicitada. Sua vida e a de parte da sua família foram ceifadas pouco depois de ela chegar em casa após ter passado o dia inteiro na Conferência Municipal de Igualdade Racial. Aquele 3 de agosto de 2013 tinha sido mais um dia de luta.
Foram incontáveis os estudantes que a procuravam em sua casa para fazer pesquisa sobre o Candomblé. E ela pacientemente recebia e acolhia a todos e explicava, ensinava e oferecia junto com um lanche aquele sorriso firme que envolvia a cada um. Foram incontáveis as palestras na UEL, nas escolas de Londrina, sempre em busca de vida e de combate a todo tipo de intolerância e na luta pela efetiva implantação da Lei 10.639/03. Sua linda e forte voz envolveu a todos nós em inúmeras ocasiões. Era impossível não estremecer diante do seu canto. Lembro-me da comemoração dos 40 anos do curso de Ciência Sociais na UEL, no dia 15 de junho de 2013, quando ela cantou durante horas enquanto estudantes e professores dançávamos ao som do samba de roda que ela tanto amava e que difundia. D. Vilma era o nosso patrimônio. Agora, a sua ausência deixou-nos sem chão e sem forças.
Foi um grande privilégio conviver com ela e compartilhar momentos difíceis de luta contra o racismo, mas tantos outros de alegria, de aconchego, de acolhimento e de partilha. Que a sua vida, exemplo e alegria reconfortem a todas as vítimas dessa tragédia coletiva, notadamente os seus mais próximos, filhos e netos.
Ontem, fomos surpreendidos com a notícia de que o delegado, responsável pelo caso, concluiu que não houve problemas de intolerância religiosa. Contudo, existem indícios de que o processo não poderia ser concluído talvez precisaria de mais tempo para esclarecer algumas questões. Em nossa sociedade, quanto vale a vida de três mulheres negras pobres, duas idosas de saúde fragilizada e uma criança!?
Disponível em: < https://www.facebook.com/marianilza.dasilva.3>. Acesso em: 11 ago. 2013.
Conheça a bibliografia:
LANZA, Fábio; SOUZA, Alexsandro Eleotério Pereira; MERISSI, Lais Celis; DINIZ, Larissa Mattos. Yá Mukumby : a vida de Vilma Santos de Oliveira. Londrina : UEL, 2010. 62 p. Coleção Presença Negra em Londrina. Disponível em: <http://www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/Livro_dona_vilma_final_13_11%5B2%5D.pdf>. Acesso em 11 ago. 2013.
Assista ao vídeo a seguir: Tudo o que você gostaria de saber sobre macumba e nunca teve coragem de perguntar com Yá Mukumby.
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Equipe NEABI